“Não acontece só na Europa”: jogador é chamado de “macaco” em partida de basquete universitário.

Caso foi registrado na Delegacia de Pronto Atendimento (Depac) de Dourados. — Foto: Reprodução/TV Morena

Na semana que o mundo discute o racismo no esporte, após torcedores do Valencia realizarem ataques racistas contra o jogador Vinícius Jr., o sul-mato-grossense Carlos Wilson Cardozo Ferreira, de 25 anos, luta por justiça após ser chamado de “macaco” em um jogo de basquete universitário em Dourados (MS).

Carlos é militar, atua no Corpo de Bombeiros de Amambai (MS), e estuda Odontologia na Unigran. No dia 15 de maio, o rapaz participou de uma Olimpíada Universitária, promovida pela instituição para integrar os cursos de graduação.

O jovem estava jogando basquete pelo time da atlética do curso de Odontologia, quando um parceiro de quadra discutiu com um outro jogador do time adversário, de Agronomia. Carlos foi apartar a briga, para impedir que os dois se agredissem fisicamente, quando o homem do outro grupo o ofendeu: “sai daqui macaco”.

“Eu já sai falando para os árbitros, ‘ele me chamou de macaco’. Fui na mesa de arbitragem, perguntei se eles não iam fazer nada, mas ninguém tomou atitude nenhuma. Ele foi expulso do jogo apenas e o jogo acabou ali. A gente foi embora e fiquei sem saber o que fazer. Mandei mensagem para a coordenadora do meu curso, e ela falou pra eu fazer o BO”, disse.

No outro dia, 16 de maio, Carlos foi até Delegacia de Pronto Atendimento (Depac) de Dourados e registrou boletim de ocorrência contra injúria racial. O crime está previsto no artigo 2-A da Lei nº 7.716/86 e imputa pena de 2 a 5 anos de reclusão, mais o pagamento de multa.

Desdobramento do caso

No dia 19, a Unigran entrou em contato com o estudante solicitando que encaminhasse o Boletim de Ocorrência para apurar fatos. “Só que foi só isso até o momento”, apontou Carlos.

Em Dourados, existe o Conselho Municipal de Defesa e Desenvolvimento dos Direitos dos Afro-brasileiros (Comagro) que atua no combate ao racismo. A entidade enviou um ofício para a universidade cobrando alguma ação e disseram estar à disposição para ajuda.

No dia 22, a Unigran enviou outro ofício relatando que designou alguns professores para constituírem uma Comissão de Sindicância, que vai apurar os fatos e tomar providências em seis meses, prazo que pode ser prorrogado.

“A gente acha que não acontece, que só acontece na Europa, mas está cada vez mais claro que acontece em todo lugar. Não acontece só na Europa”, enfatizou Carlos.

Esporte na vida de Carlos

O esporte sempre fez parte da vida de Carlos. Em 2017, ele foi contratado por um time profissional de vôlei e morou por um ano em Portugal. Quando voltou para Mato Grosso do Sul, ele passou no concurso para soldado do Corpo de Bombeiros de Amambai (MS), onde trabalha há três anos.

No ano passado, ele decidiu voltar para as salas de aula e iniciou o curso de Odontologia, quando desde o primeiro semestre integra o quadro de atletas da atlética do curso. Infelizmente, não foi a primeira vez que foi alvo de ofensas racistas. Mas nem por um momento, cogitou deixar seus agressores impunes.

“Já aconteceu antes, mas na infância, na escola. Eu estudava em Amambai e foi resolvido ali mesmo, mas foi a única vez. No momento eu até fiquei sem reação, só pensei na questão de que ia procurar meus direitos. Falei com meus pais eles me aconselharam a fazer o boletim de ocorrência, a coordenação do meu curso, também”.

Retirado de https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *