Após as diversas denúncias e matérias jornalísticas, inclusive publicadas no Correio do Estado, a Missão Evangélica Caiuá divulgou nota apontando que o gerenciamento do Hospital e Maternidade Porta da Esperança, localizada em Dourados, e que atende os indígenas das aldeias Jaguapiru e Bororó, passa por dificuldades já que os valores repassados pelo Governo Federal, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), são insuficientes para sustentar todos os setores da unidade de saúde.
Conforme mostrado pelo Correio do Estado, o Hospital Porta da Esperança atende cerca de 18 mil indígenas, que vivem tanto nas duas aldeias quanto nas áreas de retomada da cidade. No entanto, poucos destes indígenas ocupam cargos de decisão na unidade ou são bem atendidos nas suas necessidades.
De acordo com a nota, a quantia repassada pela federação não é suficiente para pagar os profissionais que atuam no hospital, seja da área da saúde, manutenção e limpeza e administrativo. Além dos salários, os recursos ainda precisam cobrir os gastos com insumos, medicação e internação.
A nota não deixa claro qual o valor repassado do SUS para o hospital, mas culpabiliza o convênio que a entidade tem com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que não permite que os profissionais de saúde contratados por meio de convênio com a entidade atuem no hospital, já que são chamados exclusivamente para dar assistência dentro das aldeias.
Dessa forma, a Missão Caiuá precisa contratar outros profissionais e pagá-los para que atuem no atendimento aos indígenas que procuram o hospital.
“Temos lutado com muita dificuldade, principalmente porque os Convênios com a SESAI não permitem a utilização desses profissionais de saúde [que atuam nas aldeias] para trabalharem no Hospital”, diz a nota.
Além do repasse do governo federal, quando a matéria do Correio do Estado mostrando as dificuldades enfrentadas pelos pacientes do hospital foi publicada, a administração do hospital apontou que a unidade de saúde ainda recebe R$ 215 mil da prefeitura de Dourados, o que em cinco ano de contrato deve totalizar R$ 12,9 milhões.
Embora em nota a organização afirme que a verba repassada é insuficiente para manutenção do hospital, em entrevista ao Correio do Estado, o coordenador jurídico da Missão, Cleberson Daniel Dutra, informou que os recursos federais são usados apenas para a contratação de profissionais da saúde que atendem nas aldeias e áreas de retomada.
A entidade ainda informou que o recurso não pode ser usado para finalidades como assistência, compra de medicamentos, alimentação e outros insumos, sendo que a instituição trabalha com o déficit de aproximadamente R$ 185.000,00 mensais.
DIFICULDADES E ESTRUTURA PRECÁRIA
Fontes ouvidas pelo Correio do Estado em condição de anonimato relataram que o Hospital e Maternidade Porta da Esperança não oferece atendimento adequado aos pacientes que procuram pela unidade de saúde.
Uma ex-funcionária que não quis se identificar por razões de segurança, disse que já presenciou diversos episódios de negligência contra os pacientes, que enquanto ficam internados precisam sobreviver com falta de alimentação adequada e de materiais de higiene.
Com uma estrutura que conta com farmácia, cozinha, laboratório de análises clínicas, salas de atendimento, além da maternidade e refeitório, as fontes ouvidas pela reportagem afirmam que uma das principais dificuldades é ter acesso à uma alimentação adequada, já que muitas vezes os indígenas têm refeições bem limitadas.
“Para os indígenas servem arroz, feijão e farinha. Às vezes tem ovo, mas não tem cardápio definido para a necessidade de cada paciente. Quando vai uma verdura ou uma fruta, é de doação do [programa] Mesa Brasil. Eles não compram. Também não tem roupa de hospital ou sabonete para os pacientes”, relatou a fonte.
Vice-capitão da Aldeia Jaguapiru, Tainha,afirmou que o hospital alega falta de recursos, o que o líder afirma que não entende, já que a instituição tem repasses milionários.
“A gente teve reuniões com os diretores do hospital e da ONG.Para nós, eles falaram que está faltando verba, que estão precisando de ajuda para custear leito, medicação, alimentação.
E completa: “A gente ficou sem entender por que faltam coisas, com tanto dinheiro que eles recebem e a gente passando necessidade. Eles falam uma coisa, mas a nossa realidade é outra”, salientou o vice-capitão da aldeia.
A Missão Evangélica Caiuá recebeu R$ 432 milhões ao longo de nove anos para atender a saúde indígena em Mato Grosso do Sul. Além do Estado, a entidade ainda tem convênios no Acre, Amazonas e Roraima, estado em que mulheres de indígenas da etnia Yanomami sofrem com desnutrição, doenças contagiosas e pulmonares.
Retirado de https://correiodoestado.com.br