Annice Dias e a amiga Maria Emiliana Cavuto Abrão são turismólogas. Por mais de 20 anos trabalharam com a atividade em Porto Murtinho, cidade de 17,5 mil habitantes, que fica no Pantanal, em Mato Grosso do Sul, na fronteira do Brasil com o Paraguai. No município, o turismo de pesca se consolidou, mas elas sempre sonharam com mais.
Empregadas no setor público e no privado, queriam abrir o próprio negócio e oferecer aos visitantes a oportunidade de vivenciar tudo aquilo que as encantava em sua terra natal: a contemplação das belezas pantaneiras, a observação dos pássaros, os sabores da gastronomia local e a riqueza cultural do casario histórico.
Há dois anos as amigas perceberam que tinha chegado o momento de transformar o sonho em realidade. Em 2021, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benitez, assinou a ordem de serviço para a construção da Ponte da Bioceânica. A estrutura, que começou a ser erguida no ano seguinte, liga Porto Murtinho, no Brasil, a Carmelo Peralta, no Paraguai, e representa a superação do maior gargalo logístico para a viabilização do Corredor Bioceânico, a megaestrada que liga os portos de Santos (SP), aos do Chile.
Com a medida, o presidente paraguaio pôs fim às incertezas sobre o projeto da rota bioceânica e deu iniciou a um processo que mudaria a geografia econômica, cultural e social de regiões que tanto no seu país, quanto no Brasil, eram consideradas “fim de linha”, pela localização, para se transformarem em centros de um importante corredor logístico continental.
A megaestrada, segundo estudos da Empresa de planejamento e logística (EPL) pode encurtar em mais de 9,7 mil quilômetros de rota marítima a distância nas exportações brasileiras para a Ásia. Em uma viagem para a China, por exemplo, pode reduzir em 23% o tempo, cerca de 12 dias a menos. Esse ganho logístico representa incremento de competitividade para os produtos sul-mato-grossenses e brasileiros. Além disso, a rota possibilita o incremento da comercialização entre os quatro países por onde passa: Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, além de promover a integração cultural e o turismo.
“A Rota Bioceânica foi nosso start. Percebemos uma grande oportunidade que essa ligação nos oferecia, pois vai aumentar o fluxo de pessoas de vários países passando pela região, para que pudéssemos trabalhar novos segmentos turísticos em Porto Murtinho. Queríamos mostrar que além da pesca, temos as belezas dos rios Paraguai, Apa e Branco, a Cachoeira do Apa, uma cidade repleta de prédios históricos e de monumentos e ainda nossa gastronomia, com todas as influências que teve da fronteira e que a tornam tão marcante. Com o projeto da rota e a construção da ponte, Porto Murtinho está em evidência. Temos muitas consultas de pessoas e famílias interessadas em conhecer a região”, explicam as amigas e sócias.
Republicado de https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/