‘Empresário’ com contrato de R$ 224 milhões com prefeitura diz que ganha dois salários mínimos.

Adir Fernandes foi detido por guardar arma ilegal em casa – Foto: Redes Sociais

Uma arma apreendida (calibre 32 da marca Rossi), na quinta-feira passada (15), com duas munições intactas, embaixo do colchão de uma cama, numa chácara, em Terenos, cidade distante 30 quilômetros de Campo Grande, possivelmente fabricada há cem anos, pode levar o MP-MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) a desenredar uma fraude construída a partir licitações milionárias promovidas pela prefeitura de Campo Grande.

Somente de 2017 para cá, uma suposta organização criminosa, por meio de contratos firmados com empreiteiras, arrecadou com o município em torno de R$ 300 milhões.

O esquema começou a ruir na quinta-feira passada (15), logo pela manhã com a deflagração da “Cascalhos de Areia”, operação do MP, que cumpriu ao menos 19 mandados de busca e apreensão. Uma das ordens judiciais atingiu André Luís dos Santos, o conhecido Patrola, dono de empreiteira, amigo do ex-prefeito Marquinhos Trad, do PSD.

Supeitas do MP-MS indicam que Patrola vencia as concorrências para cuidar da manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinários, com a empresa ALS, ou, outras empresas que seriam tocadas por aliados seus, os chamados laranjas. 

No jargão policial, cita-se laranjas quando alguém empresta o nome para esconder a origem ou destinatário de recurso ilegal, geralmente em operações que apuram crimes de corrupção e corrupção.

Numa das investidas da operação, os investigadores foram à casa de Adir Paulino Fernandes, 65, na chácara Santa Dirce, a 3 quilômetros do centro urbano da Terenos. Lá, os policiais acharam embaixo de uma cama o revólver de calibre 32, sem registro.

O dono da casa foi detido e levado para a delegacia. O MP já sabia que Adir seria o dono da JR Comércio e Serviços, empresa criada em 2011.

Em depoimento, o “empresário”, ao lado do advogado, disse que era motorista autônomo e que ganhava a vida negociando o que produzia no sítio da família, especificamente, queijos.

Quanto a arma, o revólver de calibre 32, ele disse que seria de seu pai, Saul Fernandes, que morreu em 2019, já aos 92 anos de idade.

Ao delegado Antenor Batista da Silva Júnior, Adir Fernandes disse que seus ganhos com a venda de queijos e outras mercadorias que produzia na chácara davam-lhe uma remuneração mensal de R$ 2,5 mil.

Ainda quanto a arma e a confissão de que a seria do pai, Adir disse que:

“… sua família se mudou há muitos anos de Rio Brilhante para Terenos e desde aquela época seu pai já possuía o referido armamento. Que o interrogando acredita que arma possui mais de 100 anos”.

Adir disse também que “acha” que o pai usava a arma para a caça e ressaltou ainda que se soubesse que ia dar “esse tipo de problema” [prisão], “já teria se livrado”.

O delegado, depois de tomar as declarações do investigado, fixou uma fiança no valor de R$ 1,3 mil. Adir pagou e foi embora. Não fosse a arma camuflada, adir não precisaria ter ido até a delegacia revelar seus ganhos. Havia contra ele um mandado de busca e aprensão, apenas.

De lado o histórico do depoimento, a realidade que deve determinar rumos à investigação sobre o esquema das empreiteiras que arrecadaram milhões com a prefeitura de Campo Grande.

OS MILHÕES

Contratos firmados pela JR Comércio de Serviços e a prefeitura celebrados de 2017 com o cronograma para expirar em 2024, ano que vem indicam que a empresa de Adir, o vendedor de queijo com rendimento de R$ 2,5 mil mensais, movimenta negócios que giram em torno R$ 224,5 milhões. Há negócios de importâncias vultosas e encurtadas, como a que alcançou R$ 219,7 milhões, R$ 3,9 milhões, R$ 862 mil e R$ 179 mil.

A dinheirama entra na conta da empresa contratada pelo município para locar máquinas pesadas, caminhões, veículos leve e equipamento, incluindo o fornecimento de combustível, operadores, motoristas, alimentação e também, o traslado, manutenção de todo o maquinário e demais custos. Os contratos foram celebrados no período que Marquinhos Trad administrava a cidade.

Em entrevista ao Correio do Estado, o ex-prefeito admitiu ser amigo de Patrola, o suposto cabeça do esquema, mas rejeitou a ideia de que houve irregularidade nos contratos.

CRIMES

De acordo com a 31ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social de Campo Grande, os implicados no suposto esquema das fraudes em licitação, devem responder por prática de “crimes de peculato, corrupção, fraude à licitação e lavagem de dinheiro, relativos a contratos para manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinário de veículos junto ao município [prefeitura de Campo Grande.

Empresas de Patrola também presta serviços à prefeituras do interior do MS, principalmente a de Corumbá.

Entre os 19 mandados de busca e apreensão efetuados na quinta-feira passada, surge nome de empreiteiros, ex-secretários e engenheiros, além servidores públicos..

Há, ainda, suspeitas de que o apelidado Patrola tenha fortes ligações com políticos.

O Correio tentou falar com Adir Fernandes, por meio do celular dele que consta no boletim de ocorrência que tratou da prisão, ontem à tarde, mas não conseguiu. Assim que ele se manifestar, ou queira, este material será atualizado.

Republicado de https://correiodoestado.com.br

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