Inconformado com a derrota de um requerimento que propôs cobrar informações sobre nomeação de servidores públicos (que ele diz ser 2,5 mil), o deputado estadual João Henrique Catan (PL), que em outubro se elegeu em meio a chapa bolsonarista no Estado, disse à imprensa que usou o livro do ditador nazista alemão Adolf Hitler, “Minha Luta”, considerado a “Bíblia do Nazismo”, para comparar o modus operandi do alemão com o do governo de Eduardo Riedel (PSDB).
Apesar de ter feito a crítica em um parlamento, uma casa democrática, justamente depois de ter perdido seu requerimento no voto, o deputado insistiu em comparar o governo atual de Mato Grosso do Sul com a prática do ditador nazista que, segundo ele, age para dominar o parlamento.
“Quando você vai explicar algo tão elementar, tão básico, tão violado, você precisa ter elementos comparativos históricos que consigam trazer o destaque, a polêmica e o entendimento adequado porque aqui no Mato Grosso do Sul a base que o governador Eduardo Riedel construiu pra anular as funções legislativas do parlamento seria o mesmo que atear fogo nas funções parlamentares no exercício adequado da atividade parlamentar sem precisar tacar fogo num prédio, sem precisar que o prédio vá a ruína, entendeu?”, tentou se explicar Catan.
“Essa era a comparação, só essa”, tentou explicar o deputado Catan, que agora sofre uma enxurrada de críticas em todo o Brasil, de entidades de direitos humanos, e também de parte da sociedade civil”, complementou.
Catan ainda disse que “a polêmica ela tem que ser mostrada com credibilidade, com verdade”.
“Eu eu utilizei o livro dentro dum contexto pra realmente chamar atenção ao Governo do Estado que está nulificando as funções e atribuições do parlamento”, disse.
Ele ainda disse que “tudo mundo sabe” que ele tem ojeriza ao Hitler.
Leitor do ditador
Catan também acrescentou que leu o livro que expôs na Assembleia Legislativa e que foi escrito pelo ditador nazista. Como a venda do livro passou a ser rara no país depois de várias polêmicas envolvendo apologias ao nazismo (que é crime no Brasil), o deputado sul-mato-grossense explicou que comprou seu exemplar durante viagem à Inglaterra.
“Li o livro, claro, eu trouxe ele na minha mala da Inglaterra, eu comprei esse livro na Inglaterra. Nesse livro, inclusive, está escrito o que eu apresentei no plenário”, afirmou.
Ele ainda sugere que as pessoas leiam a obra do ditador nazista, e que considera tal ato importante. Catan também tenta comparar Adolf Hitler, o ditador que foi derrotado pelas forças aliadas, e pelo exército comunista de Stalin, da União Soviética, a ditadores de esquerda, como Daniel Ortega.
“Eu acho que é importante que as pessoas leiam, por exemplo, uma autobiografia de um ditador como Hitler, pra acabar não apoiando e aceitando que o PT, por exemplo, apoie Daniel Ortega na Nicarágua”, complementou Catan.
Ainda quando se justificou para a imprensa, João Henrique Catan também insiniou que o podcaster Monark, no início de 2022, também foi incompreendido. “Aquele outro, que foi lacrado também”, disse o deputado.
Em 2022, Monark defendeu em seu podcast a legalidade de um partido nazista no Brasil.
O regime de Adolf Hitler é o mentor e executor do Holocausto, uma das maiores tragédias da humanidade.
O extermínio de judeus no continente europeu, durante a Segunda Guerra Mundial, ceifou a vida de mais de 5 milhões de pessoas.
Comemoração a parte
Ao tentar explicar que foi mal compreendido pela mídia e também por quem o acompanha nas redes sociais, Catan aproveitou o ensejo para comemorar seu alcance nas redes sociais.
“Eu tô com um alcance que é estrondoso, assustador, eu nunca vi, e é muito legal porque a gente tá tendo a oportunidade de falar a verdade. Então, que pese a polêmica criada, mas o parlamentar vive de conseguir dar alcance pro seu discurso”, celebrou o deputado.
Catan comemorou que o objetivo de seu discurso, que era solicitar informações sobre a nomeação de aproximadamente 2,5 mil servidores comissionados, também acabou lembrada. O governo de Mato Grosso do Sul, porém, prontamente afirmou que todas as informações solicitadas pelo deputado estadual, estão no Portal da Transparência.
“Na minha humildade não sabia o tamanho do alcance, é óbvio que eu achei que ia ter um alcance, mas eu tô impressionado com o tamanho do alcance que teve”, disse o deputado.
Imprensa na mira
João Henrique Catan ao alegar que foi mal interpretado, e que usaram apenas um fragmento de sua fala na Assembleia Legislativa, ainda afirmou que irá processar a imprensa. Sobretudo integrantes de veículos de fora de Mato Grosso do Sul.
“(Vou processar) todos, vou ganhar dinheiro e vou aplicar isso pra aprimorar a dispersão das informações da minha equipe, a minha nas redes sociais. E vou falar pra você, vou ganhar muito, porque eu já fiz um levantamento de quantos, o tamanho dos portais e as e as quantidades de pessoas que divulgaram informações sabidamente mentirosas, falsas”, afirmou o deputado.
Apesar de o deputado afirmar que as informações são falsas, as notícias citadas por ele citam a própria fala do deputado estadual. “O que eu lembro de cabeça é a ISTOÉ, revista VEJA, UOL, Band, Jornal Metrópoles, Mídia Ninja… Todos! Não vou deixar nenhum”, disse Catan, sobre os veículos que pretende processar.
Resposta do governo
O governo de Mato Grosso do Sul, perguntado sobre a justificativa de João Henrique Catan, disse que
“1. A demanda do parlamentar em questão não chegou ao conhecimento do governo do Estado e foi interpretada como parte do debate entre diferentes forças políticas que ocorre no dia a dia da Assembleia Legislativa.
2. Os dados solicitados com tanta veemência, constam normalmente, e à disposição de toda sociedade, no Portal da Transparência do Estado, que alcança nota 10 pelos institutos credenciados a avaliarem a sua proficiência, inclusive conforme registrou levantamento feito pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU), no ranking da Escala Brasil Transparente (EBT).
3. Não há como deixar de lamentar o histrionismo da cena política, na qual se utiliza um livro abjeto, de tão trágica memória, como instrumento para se cobrar o que já é de domínio público”.
Retirado de https://correiodoestado.com.br