Com aval da Agesul, estrada turística no Pantanal recebe 20 viagens de tritrens da Suzano por dia.

Estrada-parque de Piraputanga (Foto: Edemir Rodrigues/Governo de MS).

Trafegar pela Estrada-Parque Piraputanga, como é conhecida a MS-450, é um passeio entre paredões da Serra de Maracaju que têm atraído cada vez mais turistas. Mas em 2024, com aval da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), a região virou rota de escoamento de eucalipto por meio de tritrens, caminhões com três semirreboques, espécies de ‘vagões’, com destino à indústria Suzano e capacidade para transportar até 74 toneladas de carga bruta.

A empresa que tem indústrias de celulose em Mato Grosso do Sul adquiriu 4,5 mil hectares de eucalipto na Fazenda Lageado, em Dois Irmãos do Buriti, e assinou contrato de três anos para retirada de 40 mil metros cúbicos de madeira de eucalipto por mês. Acontece que a propriedade está localizada na estrada-parque, por onde os caminhões terão de circular por 11 quilômetros até chegar à BR-262.

São estimadas pela empresa pelo menos 20 viagens diárias de caminhões carregados de eucalipto pela estrada construída pelo próprio Governo do Estado, com cunho contemplativo e como forma de fomentar o turismo na região. O investimento feito nos últimos anos deu certo e é crescente o número de visitantes de veículos, motos e bicicletas na região que também é área de proteção ambiental.

Mas com a negociação da Suzano para compra de eucalipto, com aval do Governo para o transporte na região, moradores e empresários da estrada-parque foram pegos de surpresa e desde então, tentam lidar com a situação. O Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Estrada-Parque Piraputanga tenta negociação amigável com a Suzano para tentar mitigar os impactos do transporte.

SOS Pantanal acusa Agesul e Imasul de omissão

Com autorização da Agesul e sem a necessidade de aval ambiental, o Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Estrada-Parque Piraputanga iniciou tratativas para construir uma parceria com a Suzano, já que não há formas de impedir que o transporte de eucalipto aconteça.

Porém, o caso ganhou repercussão com a decisão da SOS Pantanal de deixar a cadeira que ocupava no conselho com a alegação de que manifestou diversas preocupações com o aumento de tráfego de caminhões na região, mas não houve mudanças significativas no processo de autorização do uso da Unidade de Conservação, o que se concretizou por meio da omissão da Agesul e do Imasul.

A entidade alega que a rodovia não possui mecanismos básicos para a passagem de fauna, tampouco acostamento ou cercas de proteção e os pequenos negócios turísticos serão prejudicados pela interferência dos veículos num ambiente ideal para o relaxamento e prática de esportes de natureza.

Estrada-parque de Piraputanga (Foto: Edemir Rodrigues/Governo de MS)

De acordo com Leonardo Gomes, diretor-executivo do SOS Pantanal, o Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Estrada-Parque Piraputanga, com a participação do instituto, “fez uma ampla consulta com a população local, posicionando-se de forma clara com relação aos impactos do empreendimento para vidas humanas, animais silvestres e para a infraestrutura. Infelizmente isso não motivou análises mais profundas por parte das instituições estaduais, especialmente da AGESUL, e a continuidade do SOS Pantanal neste espaço seria legitimar uma decisão que consideramos bastante irresponsável”.

O Governo de Mato Grosso do Sul foi questionado sobre o assunto via e-mail e o espaço segue aberto ao posicionamento.

Conselho tenta minimizar impactos

Em janeiro deste ano, o Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Estrada-Parque Piraputanga realizou uma reunião pública sobre o assunto, de onde surgiu uma lista de exigências entregues a Suzano como forma de mitigar os impactos na área de preservação ambiental e turística.

Uma nova reunião deve acontecer me maio e o conselho afirma que tenta construir uma relação amigável com a indústria, já que eles foram autorizados a realizar o transporte do eucalipto na estrada-parque. Presidente do conselho e gestor da estrada-parque, Marcelo Moraes de Freitas, destaca uma série de pedidos feitos à empresa.

Entre eles, a redução no tráfego de caminhões em feriados e finais de semana, bem como em horários de pico. Além disso, o Conselho pediu que a Suzano se atentasse aos motoristas designados para atuar na região, para terem experiência comprovada, principalmente por se tratar de uma área de preservação ambiental.

“Fizemos um relatório com pedido de várias melhorias para a Suzano, propostas de segurança humana e de animais. Eles estão analisando e pretendem realizar uma reunião presencial no início de maio”, afirma.

Polêmica fomenta discussão mais profunda

A frente da Aecopaxi (Associação dos Empreendimentos do Corredor Turístico do Paxixi), Miriam Aveiro ressalta que os caminhões da Suzano não são os primeiros a passar pela estrada-parque Piraputanga, mas é importante que o tema se torne polêmica para que os olhares se voltem ao assunto.

“Os mesmos que criaram a estrada-parque pensada no turismo e fomentam a atuação ambiental, são os que autorizam situações como a da Suzano e outras, como uma carvoaria em funcionamento no Morro do Paxixi. Então essa discussão vem trazer a tona uma questão que é muito maior”, afirma.

Reunião realizada pelo conselho em janeiro (Foto: Mairinco de Pauda/Imasul)

Com o aumento do turismo refletido em mais visitantes e empreendimentos, várias outras situações surgem, como discussões sobre fornecimento de energia elétrica, água e esgoto e a necessidade urgente da preservação ambiental.

“Estamos acompanhando e tentando trabalhar junto com a empresa (Suzano) para podermos ter uma parceria saudável em meio a essa situação”, afirma Miriam.

Suzano afirma que tem adotado ações mitigatórias

A empresa Suzano enviou nota ao Jornal Midiamax sobre o assunto, onde afirma ter as autorizações legais para o transporte do eucalipto e diálogo ativo com as partes. Confira na íntegra:

Após obter todas as autorizações legais e realizar um diálogo ativo – e permanente – com a comunidade local para entender suas preocupações e anseios relacionados tanto ao dia a dia local, como das questões turísticas e de meio ambiente da região, a Suzano implantou uma série de soluções que permitiram iniciar um transporte de madeira seguro e sustentável ao longo do trecho de 11 quilômetros da MS-450, que inclusive já é utilizada por outras empresas de Mato Grosso do Sul para o transporte de cargas.

Dentre tais ações, a empresa destaca:

  • Melhorias na sinalização de trânsito e implantação de bolsões para facilitar a ultrapassagem de veículos pequenos, bem como para servirem de paradas emergenciais ao longo de todo o trecho utilizado para o transporte de madeira (projeto aprovado pela Agesul);
  • Controle ativo de frota (por meio de Central de Controle online) de forma a garantir a velocidade dos veículos em cada trecho da MS-450, bem como o fluxo de tais veículos exatamente dentro dos horários informados à comunidade, com destaque para a restrição de circulação em horários escolares e redução considerável da frota aos finais de semana; ou seja, a empresa implantou uma operação referência no setor, com o menor impacto possível para a comunidade;
  • Rotogramas falados, ou seja, avisos eletrônicos diretamente na cabine dos motoristas reforçando os limites de velocidade em cada trecho, alertas de fauna, presença de ciclistas e proximidade da escola da região;
  • Treinamento com 100% dos motoristas sobre cuidados e orientações relativos à fauna, ciclistas, descarte de lixo, e sobre respeito a comunidade local. Esses treinamentos serão reaplicados ao longo da operação de transporte, sempre que necessário.
    A empresa também colocou à disposição da comunidade seu canal de Ouvidoria – 0800 771 060 – para que possa receber sugestões, críticas ou denúncias visando aperfeiçoar ainda mais sua operação na região.

Republicado de https://midiamax.uol.com.br

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