Com renda de R$ 2 mil, motorista tem quase R$ 200 milhões em contratos com a prefeitura de Campo Grande.

Nas redes socais, Adir se apresenta como motorista. — Foto: Redes sociais/Reprodução

Com renda declarada de R$ 2 mil, o motorista Adir Paulino Fernandes, de 65 anos, é dono de contratos com a prefeitura de Campo Grande que somam quase R$ 200 milhões, conforme denúncia do Ministério Público de Mato Grosso do Sul. As licitações são vinculadas à empresa JR Comércio e Serviços, que tem como único sócio o idoso.

g1 tentou contato com a empresa JR Comércio e Serviços, que não atendeu as ligações feitas. Adir Paulino Fernandes foi preso em flagrante com uma arma durante a ação policial em casa durante cumprimento do mandatos das Operação Cascalhos de Areia, que mira esquema de corrupção em contratos em obras com a prefeitura de Campo Grande. A defesa do suspeito é feita pela Defensoria Pública, que não retornou o contato feito pela reportagem.

Conforme denúncia do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Adir é apontado como principal “laranja” da empresa JR Comércio e Serviços, empreendimento que possui contratos com a prefeitura de Campo Grande no valor de R$ 196.408.789,75.

O motorista ingressou ao quadro como único sócio da empresa em 2018. Na época, quatro contratos milionários já estavam em vigência com a prefeitura. Segundo investigação do MPMS, o primeiro relacionamento entre empresa e prefeitura com Adir foi em 2019, quando o motorista adiou uma obra por mais 12 meses.

A desconfiança e a suspeita de que Adir seria um laranja da empreiteira foi levantada e confrontada a partir do modo de vida do motorista. Nas redes sociais, o idoso aparece com fotos atreladas a carros de viagens e em registros de informações policiais tem como profissão assinalada a de “motorista autônomo”.

Outro ponto de atenção ao MPMS foi o endereço de Adir. No local foi encontrada a residência, um local simples para alguém com mais de R$ 200 milhões em licitações com a prefeitura de Campo Grande, segundo a investigação.

“O endereço residencial de Adir Paulino está localizado em área humilde, local em que existem casas de baixo padrão, destoando da condição financeira do empreendimento registrado em seu nome, que possui capital social de R$ 500 mil e contratos firmados com o Poder Público que somam R$ 196.408.789,75”, detalha parte do documento a qual o g1 teve acesso.

🟠🍊Laranja

Conforme investigação do MPMS, a empresa JR Comércio e Serviços é de Adir no papel, porém o principal beneficiado com as fraudes era Edcarlos Jesus Silva, genro do motorista com renda de R$ 2 mil.

Edcarlos usava o sogro para ter acesso ao montante milionário em contratos com a prefeitura de Campo Grande, segundo apuração do MPMS. Como prova do entrelace, a empresa JR Comércio e Serviços, por meio de Adir Pualino Fernandes, determinou amplos e irrestritos poderes a Edcarlos, em 2019.

Antes de abocanhar os contratos fraudulentos na área de infraestrutura, JR Comércio e Serviços já havia conquistado diversas licitações de pequeno porte para o fornecimento de materiais de consumo e alimentos a prefeitura de Campo Grande, detalha a denúncia do Gaeco. Já em 2017, em ramos não habituais, a empresa começou a acumular licitações mais robustas, frisa o documento do MPMS.

Prisão

O empreiteiro Adir Paulino Fernandes, de 65 anos, é um dos alvos do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na Operação Cascalhos de Areia, deflagrada nesta quinta-feira (15) em Campo Grande. Em depoimento, o suspeito afirmou à polícia que vive da venda de queijos e tem uma renda mensal de R$ 2.500. Adir Paulino foi preso em flagrante com uma arma durante a ação policial em sua casa.

Em contrapartida, a investigação mostra faturamentos milionários da empresa de Adir com a locação de veículos que deveriam ser usados na manutenção das ruas de Campo Grande.

A investigação aponta possível fraude à licitação, corrupção passiva e ativa, peculato, lavagem de capitais e organização criminosa, responsável por movimentar mais de R$ 300 milhões, em licitações, na Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep). O valor supostamente desviado, de acordo com a ação, seria usado em contratos para manutenção de vias não pavimentadas da cidade.

O empreiteiro é proprietário da empresa JR Comércio e Serviços e recebeu a polícia na chácara em que mora em Terenos (MS) – a 17 quilômetros de Campo Grande. Em um dos quartos, equipes do Batalhão de Choque encontraram um revólver calibre 32, com quatro munições – duas intactas e duas deflagradas – e foi preso em flagrante.

Em depoimento, Adir relatou que a arma era do pai, que morreu em 2019 aos 92 anos. Segundo ele, o revólver está na família há 100 anos e que nunca usou, apenas guardava em casa.

Aos policiais, Adir disse que sobrevive da venda de queijos e outros produtos, e que ganha pouco mais de R$ 2.500,00 por mês. Contudo, o suspeito é investigado por receber dinheiro da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) por serviços que não foram realizados.

Segundo o Ministério Público, a empresa de Adir assinou um contrato de R$ 34,6 milhões para a locação de quatorze máquinas de tipos diferentes para a prefeitura de Campo Grande.

Cascalhos de Areia

O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MP-MS) com apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar cumpriram, no dia 15 de junho, 19 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, na operação “Cascalhos de Areia”.

A operação é contra uma suposta organização criminosa que envolveria desde servidores públicos a empresários, suspeitos de fraudar contratos para a manutenção de vias não pavimentadas e locação de máquinas e veículos junto a prefeitura de Campo Grande, de 2017 a esse ano.Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os promotores e os policiais apreenderam documentos, anotações, agendas e os telefones celulares para investigação.

A operação mobilizou uma verdadeira força-tarefa do Ministério Público, envolvendo a 31ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social de Campo Grande, onde tramita o Procedimento Investigatório Criminal (PIC) que apura o caso, além do (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e do Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc).

Em nota, a Secretaria de Obras de Campo Grande se pronunciou e disse que permanece à disposição para qualquer esclarecimento ou fornecimento de informações necessárias ao processo.

“A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos recebeu nesta manhã as equipes da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social de Campo Grande, que informaram cumprimento de decisão judicial oriunda de Procedimento Investigatório que tramita na mesma. O Município permanece à disposição para qualquer esclarecimento ou fornecimento de informações necessárias aos entes do processo “.

Republicado de https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/

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