Um dos crimes transnacionais com intensa movimentação na fronteira do Brasil com a Bolívia é a passagem ilegal de carros roubados e furtados.
Autoridades brasileiras estimam que, em média, até 16 veículos passam por estradas vicinais em Corumbá com destino a Puerto Quijarro e Puerto Suárez por mês.
Esse dado é apurado com base na atuação de quadrilhas que agiam na região e foram desmanteladas.
Além da investigação do lado brasileiro, a Polícia Boliviana passou a atuar com um recurso a mais para combater esse tipo de crime. Agora existem dois números de denúncia para vítimas brasileiras reclamarem dos crimes para as autoridades do país vizinho.
Em qualquer tipo de roubo ou furto de veículos na região de Corumbá, os proprietários precisam realizar o boletim de ocorrência no Brasil e poderão também notificar o Diprove (órgão policial na Bolívia que atua diretamente no combate e prevenção a roubo e furto de veículos).
O telefone de notificação de crimes de roubos e furto de veículos na Diprove da fronteira é o +591 71169790, que recebe comunicação via aplicativo de mensagens, e também o número brasileiro (67) 98218-7656. As vítimas devem enviar o boletim de ocorrência brasileiro com relação ao furto ou roubo e informar detalhes e características do carro.
No país vizinho, há uma unidade da Diprove instalada em Puerto Suárez, cidade que fica a cerca de 20 km de Corumbá. Conforme o Tenente-coronel Marcelo Ramirez, diretor de fronteira da Diprove, as primeiras 24 horas depois do crime praticado são importantes para aumentar a resolutividade de roubos e furtos.
“Somos uma unidade especializada e operativa, temos a especialidade de investigar e operar nessa questão de roubo de veículos. Temos tentado realizar um controle e apuração de quem está envolvido nesses casos. Quando recebemos uma informação de forma rápida sobre um crime, temos mais chance de recuperar os veículos. Quanto mais tempo demora a comunicação, fica mais difícil, pois esses veículos podem ser levados para outras regiões do interior do país, o que torna mais difícil a recuperação”, detalhou o diretor de fronteira da unidade especializada.
Para ilustrar essa situação, Ramirez situou a recuperação de um carro sedan que havia sido roubado em Corumbá agora no mês de junho. Um motorista de aplicativo havia feito uma corrida para a região de fronteira e acabou sendo assaltado.
Houve o registro do boletim de ocorrência na 1ª DP da Polícia Civil de Corumbá e a comunicação quase imediata ao Diprove. Ninguém chegou a ser preso na operação, mas os policiais encontraram o veículo no município de Puerto Quijarro.
Depois de confirmado que se tratava do veículo, houve trâmites internos entre Bolívia e Brasil para que o carro fosse devolvido à proprietária nesta sexta-feira (16). Uma equipe da Polícia Civil acompanhou o processo de devolução.
“Os brasileiros que são vítimas devem fornecer informações de forma rápida para nós aqui na Bolívia para que possamos fazer uma investigação imediata”, explicou o diretor de fronteira da Diprove.
Joana Caballero de Souza foi a vítima do roubo em que os criminosos atravessaram o veículo para a Bolívia. Ela conseguiu recuperar o carro nesta sexta-feira (16) e se sentiu aliviada, pois ainda precisa quitar o parcelamento dele.
“Tenho ainda três anos para pagar. Eu tinha alugado o carro para motorista de aplicativo e ele acabou sendo roubado. Graças a Deus foi recuperado, eu só tenho a agradecer.”
O cônsul boliviano em Corumbá Simons William Durán Blacutt explicou que existe um acordo entre autoridades para combater esse tipo de crime e permitir que haja a devolução do bem de forma ágil.
“Neste ano já fizemos a devolução de oito veículos para vítimas brasileiras. É um processo que não envolve nenhum tipo de pagamento, tudo é feito gratuitamente, sem necessidade de taxas a serem quitadas. É necessária uma atuação em parceria, como hoje está ocorrendo, para se combater esse tipo de caso. O consulado da Bolívia está disponível para intermediar as medidas e comunicar às autoridades. Somos irmãos, brasileiros e bolivianos.”
Em Mato Grosso do Sul, em média, 11 veículos são roubados ou furtados diariamente, um prejuízo enorme para os proprietários, uma demanda para as seguradoras e um mercado que gera milhões para criminosos. Parte dessa frota acaba sendo trazida para a região de Corumbá para ser atravessada à Bolívia.
No país vizinho, SUVs e carros de luxo chegam a ser vendidos em um mercado ilegal por valores que variam entre R$ 30 mil e R$ 60 mil.
Além dos crimes estaduais, carros de outras partes do país acabam sendo trazidos para a fronteira, em Corumbá. A Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), por exemplo, estima que 1% da frota é alvo de criminosos. São, pelo menos, 10 mil tentativas de apropriação indébita por ano no País.
A frota no fim de 2020 era de um milhão de automóveis e veículos comerciais leves, como o valor médio dos veículos está em R$ 70 mil, o valor de patrimônio das locadoras sujeito a esse risco é estimado em, pelo menos, R$ 700 milhões, indicam os dados da associação.
Ano passado e agora em 2023 ocorreram diferentes ações no Brasil para combater quadrilhas que atuam nesse processo de atravessar carros na fronteira. Além disso, em maio, os delegados de Ladário, Guilherme Oliveira Pena, e da 1ª DP de Corumbá, Elton Alves de Sá Júnior, além do investigador de polícia da Delegacia de Ladário, Marcos Sérgio Tiaen, fizeram intercâmbio de informações com o Diprove, em Santa Cruz de la Sierra.
Essa aproximação ocorreu para haver mais troca entre as autoridades, tanto para combater o roubo e furto de veículos, como investigar quadrilhas que agem com o tráfico de drogas.
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