Golpe do falso emprego atrapalha ainda mais a vida de quem busca oportunidade em MS.

Vítima em conversa com suposta recrutadora para vaga de emprego.(Reprodução WhatspAspp)

Frustração é a palavra que define quem cai no ‘golpe do falso emprego’. Isso porque a pessoa espera e se prepara para tal situação e é induzida ao erro, pois quando chega ao local se depara com outra situação. É o caso de uma jovem que começou a cursar enfermagem e há algumas semanas está em busca de emprego para conseguir pagar a faculdade. Ela quase caiu no golpe, não teve prejuízo financeiro, mas teve a frustração de receber a mensagem que havia sido selecionada para uma vaga e a situação não ‘dar em nada’.

Ela contou que procura por vaga em qualquer área desde que seja no período vespertino ou noturno, já que estuda de manhã. “Entro todos os dias no Facebook para ver os grupos em que as pessoas divulgam vagas disponíveis. Eu mandava meu currículo para todos os números, e-mails, e esse que tentou me aplicar um golpe foi um desses números”, contou.

Venda de curso e certificado para vaga de emprego (Arquivo pessoal)

O golpista respondeu a jovem por e-mail avisando que ela havia sido selecionada para a vaga de balconista de farmácia e pediu para que ela o chamasse pelo número de WhatsApp para que fossem passadas informações sobre o emprego. Durante a conversa, a jovem passou dados pessoais. “Mas quando ela disse que eles iriam me contratar sim, pediu pra eu levar meus documentos e um certificado de curso de balconista de farmácia. Então, eu respondi dizendo que achava que eles não leram meu currículo direito porque eu não tinha esse certificado. Ela disse que falaria com o chefe dela pra ver o que eles poderiam fazer pra me ajudar”, explicou.

A mulher então mandou um áudio de um homem que dizia que o currículo dela era muito bom, mas que precisava desse certificado e que tinha um jeito muito fácil de conseguir, que se ela entrasse em contato com outro número, em 2 ou 3 horas já conseguiria esse certificado. O tal contato lhe informou que o certificado sairia por cerca de R$ 200.

A partir daí, a jovem percebeu que seria um golpe. “Essa tal mulher me respondia muito rápido e as mensagens eram extensas. Então dava pra ver que as mensagens já estavam prontas e o áudio que ela me encaminhou também dava pra perceber que o ‘chefe’ dela não gravou pra mim, que era um áudio feito pra ser encaminhado várias vezes”, detalhou.

“Agora eles mudaram a foto de perfil e colocaram outra logo como se fosse outro serviço”, explicou, afirmando estar frustrada, pois ainda procura por emprego.

O Golpe

O delegado Reginaldo Salomão, da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), explicou que o golpe consiste na vítima ser atraída para a entrevista de emprego e lá fica sabendo sobre uma “entrevista avaliativa” onde sempre é reprovada. “Eles falam que tem contratos, promessas, parcerias, assessorias com empresas para fazer cursos com eles e se tornar qualificada para a vaga. Muitas vezes falam que em três meses de curso está apta a trabalhar, mas não é verdade”, explica o delegado.

Há oferecimentos, por exemplo, de cursos pré-militares, algo que não existe. “Marinha, Exército, Polícia Militar, tudo isso para você seguir carreira são feitos através de concursos e depois lá dentro haverá um curso de formação, o que é gratuito, às vezes você até recebe”, detalha Salomão.

Há ainda outros cursos, como o de primeiros socorros, oferecidos por essas “empresas” para conseguir uma vaga de enfermeiro ou bombeiro civil. “A gente sabe que enfermeiro precisa de faculdade e bombeiro civil é concurso. Tem que ficar atento a esses detalhes”, conta.

O crime consiste em induzir o consumidor ao erro. A pessoa vai para a entrevista de emprego, muitas vezes sem recurso dá um jeito de pagar o curso, acreditando que ao final vai estar trabalhando.

A pena para o crime é de detenção de três meses a um ano, porém em alguns dos casos a pena é convertida em multa. A pessoa fica presa em casos de ser reincidente ou se tiver várias outras passagens criminais.

Apesar de na maioria das vezes a empresa estar aberta de forma correta, com toda a documentação, não tem registro como entidade de ensino reconhecida.

Conforme explicou o executivo de recursos humanos e especialista em gestão e atendimento, Sanger Santos, a maioria dos casos desse tipo de golpe envolve ofertas de empregos chamativas, com salários altos e muitas vezes as pessoas que caem são mais humildes. “São pessoas que realmente estão precisando. Às vezes ela não tem de onde tirar o valor do tal curso, pega emprestado, parcela, acreditando que estará empregado no final, mas não consegue o emprego”, explica.

“Isso é crime e deve ser denunciado. É uma prática antiga em Campo Grande e na maioria das vezes são as mesmas pessoas. Depois de denunciados, eles fecham a empresa e abrem outra com outro nome e continuam o crime”, lamenta.

Outros casos

Ainda segundo o delegado, houve casos de repercussão em 2019, outro em 2022 e um já este ano. “Tivemos a sorte de agir antes mesmo de fazer vítimas. Entrevistamos as pessoas e indiciamos as que prometeram emprego”, contou.

Em fevereiro deste ano, uma empresa de cursos profissionalizantes, localizada na Rua Dom Aquino, em Campo Grande, foi autuada pelo crime de induzir o consumidor ao erro. A empresa utilizava o nome da Energisa para fazer anúncios de falsas vagas de jovem aprendiz, que na verdade era para venda de cursos, no valor de R$ 300 cada, já que a empresa não tinha ligação com a concessionária.

A direção da própria concessionária procurou a delegacia para registrar a denúncia.

O proprietário da empresa de cursos informou ter a adquirido em setembro do ano passado e que “o antigo proprietário já havia estruturado assim”.

Empresa de cursos no Centro foi autuada. (Foto: Leitor Midiamax)

Cuidado

A Decon alerta para que as pessoas que procuram por vaga de emprego tomem cuidado. O próprio município e Estado oferecem qualificação profissional, com muitos cursos gratuitos.

Há a Funsat (Fundação Social do Trabalho de Campo Grande) que oferece todo dia oportunidades de emprego e cursos profissionalizantes, assim como a Funtrab (Fundação do Trabalho de MS), totalmente gratuitos, sem necessidade de recursos.

Já para cursos técnicos, há o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) com reconhecimento pelo MEC (Ministério da Educação). Caso queira fazer um curso pesquise por empresas reconhecidas ou ligue na própria empresa e questione a vaga.

“Para primeiro emprego, jovem aprendiz procure os órgãos estatais. Para isso que a gente paga imposto. Na entrevista de emprego pergunte se é realmente entrevista de emprego ou entrevista avaliativa, se for avaliativa, recuse”, concluiu o delegado Salomão.

Sanger Santos ainda alerta sobre uma questão importante não só para não cair em golpes, mas para a vida dos candidatos, que é a pessoa ter um planejamento de carreira. “Essas pessoas muitas das vezes não têm algo definido. Mesmo que ela esteja trabalhando de serviços gerais, balconista, ela tem que pensar lá na frente, em ser gerente talvez, e para isso precisa de planejamento, algo que não deve ser terceirizado por uma empresa. Busque conhecimento técnico, se forme. Se houver dificuldade, há profissionais como, psicólogo, por exemplo, que podem auxiliar nesse planejamento”.

“Não se deve acreditar só naquilo. Pesquisou sobre a empresa, não achou nada? Não vá! Toda empresa séria tem informações divulgadas. Não envie nada, não deposite dinheiro, não envie documentação. Nenhuma empresa vai cobrar qualquer taxa do candidato e a documentação é a última etapa do processo seletivo e no currículo não necessita de todos esses dados”, explicou.

Retirado de https://midiamax.uol.com.br

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