Três indígenas Guarani e Kaiowá foram presos após confronto entre a Polícia Militar e os povos originários, nesta sexta-feira (3), durante a ocupação em uma fazenda em Rio Brilhante.
O trio foi autuado por desobediência, esbulho possessório e resistência. De acordo com apuração feita, os presos vão dormir na delegacia e só serão interrogados na manhã deste sábado (4), cerca de 24 após a prisão, conforme a delegada Danielle Felismin. A delegada não justificou o porquê da demora para realizar a oitiva.
Conforme a Polícia Militar, os indígenas enfrentaram os militares com arco e flecha e facas. Os policiais utilizaram gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para tentar despejar os indígenas, mesmo sem ordem judicial de reintegração de posse. Nesta tarde, a PM havia informado que estava no local apenas para evitar conflitos.
Conforme a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o Ministério Publico Estadual já acompanha a prisão e a Defensoria Pública também foi acionada.
Representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Anderson de Souza Santos, também estiveram na delegacia de Rio Brilhante.
“Os indígenas levantaram barracos de lona e se estabeleceram no local. Ocorre que a Polícia Militar já está no local ameaçando despejá-los sem ordem judicial. No último episódio que isso ocorreu, o indígena Vitor Fernandes foi assassinado e dezenas de pessoas foram feridas na retomada Guapoy, em Amambai, em junho de 2022″, detalha o assessor jurídico do Cimi, Anderson Santos.
Indígenas das etnias Kaiowá e Guarani ocuparam a sede de uma fazenda, em Rio Brilhante (MS), nesta sexta-feira (3). Várias viaturas da Polícia Militar estão no local.
Em nota, o Cimi informou que várias famílias foram acampar na sede da fazenda e pedem pela retomada da área, que segundo os indígenas, são terras ancestrais.
Ainda conforme o Cimi, há crianças, idosos e adultos no local da reinvindicação para retomada do território chamado de Laranjeira Nhanderu, pelos povos originários.
A liderança do movimento, Guyra Arandú, alega que os indígenas sofrem com condições degradantes nos últimos anos. Segundo a representação, o objetivo do movimento é “acabar com as muitas décadas de dureza, fome, violência, racismo, veneno, intoxicação, confinamento, ameaças e trapaças dos fazendeiros, para poder garantir o que está na Lei maior de 88 [Constituição Federal de 1988], mas que o Brasil não cumpre. Só assim as famílias do tekoha [lugar onde se é], nossos velhinhos, nossas crianças vão encontrar dignidade e vão poder viver em paz’’.
A PM informou que foi ao local justamente para evitar conflitos entre indígenas e produtores rurais. Segundo a assessoria da corporação, o grupo de indígenas era pequeno.
“A PM está no local para evitar o conflito. Se trata de uma área em que já há uma invasão. E um outro grupo de indígenas estaria tentando entrar na área”, informou a PM.
Retirado de https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/