A morte de uma menina de 11 anos na noite desse domingo (11), revelou detalhes de uma vida de abusos e exageros vivida pela família. A pequena assumiu o cuidado com dois irmãos mais novos ainda criança, frequentemente ficava sozinha com eles em uma casa insalubre e era forçada a dividir espaço com homens desconhecido, clientes da mãe, que é garota de programa.
O corpo da menina foi encontrado na noite desse domingo. As marcas nele revelaram para a polícia a dimensão do crime: a criança foi violentamente agredida e estuprada. Quando as equipes chegaram, ela estava no chão da cozinha, já sem vida e bastante ensanguentada. Os dois irmãos dela – um de menos de 3 anos e o outro ainda bebê – aguardavam o quarto.
O que realmente aconteceu ali, ainda é investigado. Mas depoimento de vizinhos, da própria mãe e a perícia na casa, ajudam a traçar os últimos momentos de vida da menina.
Abandono
Eram 15h30 quando a mãe das três crianças resolveu. Ela bebia desde as 12 horas e no meio da tarde decidiu ir em para o bar. Arrastou uma máquina de lavar para fechar a porta dos fundos, trancou a porta da frente com cadeado e foi “curtir” o domingo. Ela passou mais de sete horas fora de casa. Quando voltou, encontrou a filha morta na cozinha e chamou a polícia.
Foi com ajuda de moradores que a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) conseguiu as primeiras pistas sobre a morte. De uma das casas ao lado da família, um vizinho ouviu a voz de um homem chamar pela mãe das crianças no portão, mas quem respondeu foi a vítima. Ela explicou que a mãe não estava em casa, mas ele insistiu que precisava entregar um dinheiro a ela.
O vizinho foi tomar banho depois de escutar a conversa, mas quando saiu, ouviu o bebê – o mais novo dos três irmãos – chorar alto. Ele saiu no quintal e viu um homem sair. Todas as características dessa pessoa foram repassadas a polícia, que conta com equipes do GOI (Grupo de Operações e Investigações) fazendo buscas pelas ruas de Campo Grande.
“Temos alguns nomes, algumas pessoas. Mas como os filhos têm pais diferentes e ela levava muitas pessoas para casa, muito entre e sai de homens e ela não conseguiu indicar um nome para gente, é mais difícil”, narra a delegada Karen Viana de Queiroz.
A mãe da menina não soube dizer quem poderia ter invadido sua casa. “Perguntei se ela tinha que receber de alguém, mas ela disse que não, que não sabe quem pode ser”, detalhou. O corpo da criança vai passar por exames. Com eles a polícia espera responder algumas perguntas; qual a causa da morte, se o suspeito usou algum objeto para ferir a menina e principalmente, quem é o assassino?
Outro ponto importante, que ainda é dúvida, é como o assassino entrou na casa, já que a porta da frente estava trancada. A resposta, para a polícia, é de que o suspeito deu a volta na casa para ter acesso aos fundos, onde a entrada só estava “protegida” pela máquina de lavar, que não estava mais no local quando a mãe e os policiais chegaram.
Vida de descaso
No depoimento, a mãe da menina confessou ter deixado os filhos sozinhos e explicou que trabalha como garota de programa, mas negou expor os filhos a presença dos clientes. Mais uma vez, os vizinhos desmentiram. “Ela disse que só recebia clientes quando os filhos estavam na escola e na creche. Mas os vizinhos revelaram que não, que o entre e sai de pessoas é intenso, independente se as crianças estão em casa”.
Os vizinhos ainda contaram que além de receber os clientes a qualquer horário, a mulher bebia com frequência na casa, chamava amigos e ouvia música alta.
Mas, além disso, o cenário encontrado pelos policiais é de total descaso com as crianças. “A casa totalmente insalubre, não havia alimento, tudo sujo e bagunçado. Não é um lugar apropriado por si só”, revelou a delegada.
Quando a polícia estava na casa, os irmãos da vítima ficaram em um vizinho. Elas choravam muito e por isso, a delegada pediu ajuda para levar as crianças para até a Deam, já que ela e a investigadora, também motorista da viatura, não conseguiam fazer isso com segurança e o Conselho Tutelar demorou mais de duas horas para chegar.
A testemunha atendeu o pedido e junto com ele, levou os leites e fraldas dos meninos. Eles dormiram no alojamento da Casa da Mulher Brasiliera, mas depois foram entregues ao Conselho, para serem levados até um abrigo.
A mãe das crianças foi presa em flagrante. Hoje ela responde por “abandono de incapaz com resultado em morte”. Apesar de nenhuma prova ligar ela a morte, a delegada pediu que a suspeita permaneça na cadeia.
Já o assassino, ainda não identificado, vai ser investigado por homicídio praticado contra menor de 14 anos. Esse crime é qualificado, ou seja, tem detalhes cruéis que aumentam a pena final, mas por enquanto, não é por feminicídio. Segundo a delegada, isso só acontecerá se for comprovado que o assassinato foi uma questão de gênero.
As investigações continuam na DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).
Retirado de https://primeirapagina.com.br/mato-grosso-do-sul/