João Grandão: Com a Justiça, com Lula e com o PT, enfim, o reconhecimento.

José Henrique Marques –

Com extensa folha de serviços prestados ao Partido dos Trabalhadores, a Dourados e a Mato Grosso do Sul, o ex-deputado federal João Grandão tem muito o que comemorar em 2022. Por absoluta falta de provas foi inocentado no caso sobre ambulâncias adquiridas por Prefeituras com emendas federais, que se arrastava há mais de 15 anos na Justiça Federal.

Depois, no processo eleitoral, João Grandão coordenou a campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em Mato Grosso do Sul e, há pouco, foi nomeado no seleto grupo de lideranças políticas e de técnicos da equipe de transição de Lula.

A repercussão do prestígio de João Grandão junto à cúpula do PT (o principal partido do País, vencedor de 5 das últimas 9 eleições presidenciais depois da redemocratização e segundo colocado nas outras 4), caluniadores vêm plantando maledicências nas redes sociais aludindo ao caso das ambulâncias. “Já tenho ações propostas de danos morais sobre esse assunto… quem acusou terá que responder na Justiça”, disse ele em entrevista exclusiva à Folha de Dourados.   

A inocência atestada pela Justiça não repara, contudo, os danos políticos e de foro íntimo, aos quais João Grandão foi submetido em sua vida pública e pessoal, ainda que nesse ínterim tenha sido nomeado delegado federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) no Estado, de 2011 a 2014, pela ex-presidenta Dilma Rousseff, e eleito deputado estadual com mais de 21 mil votos, em 2014.

Em 2006, quando surgiu a denúncia do Ministério Público envolvendo cerca de uma centena de pessoas, entre políticos, empresários e funcionários públicos em todo o País (muitos condenados), João Grandão não logrou êxito na segunda tentativa de reeleição, mesmo tendo mais de 52 mil votos – tinha a expectativa de ultrapassar os 100 mil votos, em função do seu prestigio em MS. Em 2011, obteve mais de 46 mil votos. Ficou na primeira suplência de deputado federal nas legislaturas 2007-2010 e 2011-2014. Até hoje é o candidato do PT a deputado federal mais votado em Dourados: em 1999, com mais de 16 mil votos. 

João Grandão, que é casado há 37 anos com Valdenir dos Santos, pai de dois filhos, um engenheiro ambiental e sanitário e outro médico veterinário, avô de três netas e um neto e morador há 34 anos no Jardim Maracanã, fala, na entrevista à Folha, da experiência de coordenar uma campanha presidencial, cujo resultado político, com a articulação do ex-governador e deputado estadual eleito, Zeca do PT, e apoio do deputado federal reeleito, Vander Loubet, o levou a equipe do presidente Lula no processo de transição.

Advogado, professor e bancário, João Grandão tem 62 anos, começou sua carreira política, em 1998, na vereança na Câmara Municipal de Dourados, e atualmente é diretor jurídico do Sindicato dos Bancários de Dourados e Região. Vem conciliando o trabalho com as reuniões híbridas do Núcleo de Projetos para o Desenvolvimento Agrário, da equipe presidencial de transição.

Na entrevista, João Grandão discorre também sobre a campanha de Lula em Mato Grosso do Sul, o fortalecimento do PT no Estado, a possibilidade da criação do novo MDA e a volta à Câmara Federal, mas ponderou ao avaliar o cenário de sucessão do prefeito de Dourados, Alan Guedes (PP): “Ainda é cedo”.

Leia a seguir a entrevista na íntegra.

Folha de Dourados – Quais os fatores que o credenciaram na indicação no Núcleo Temático de Desenvolvimento Agrário do Gabinete de Transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva?

João Grandão – Acredito que vários fatores influenciaram, por exemplo tive dois mandatos de deputado federal e durante os dois mandatos fui membro da Comissão de Agricultura, participei de vários momentos em termos de ações que envolvia não só a agricultura familiar, a Lei que alterou a forma de aplicação do Fundos Constitucionais, no MS, o FCO, e tive participação ativa nesta comissão pelo Partido dos Trabalhadores. Outro fator que considero importante foi ter sido relator da Lei 10696/2003 do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), que nela foi colocado o artigo 19 que regulamentou o Programa Fome Zero. Também coordenei o Núcleo do Agrário do PT na Câmara Federal por dois anos e tive a oportunidade de representar o Brasil pela Comissão da Agricultura e pelo PT em vários países, como Suíça (Genebra), Colômbia (Bogotá), Costa Rica e México (Cidade do México e Cancun), inclusive em umas dessas oportunidades era atividade da Organização Mundial do Comércio.  Exerci o cargo de delegado federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em MS e sou de origem da agricultura familiar, pois sou filho de pequeno produtor rural e trabalhei na roça até os 17 anos.

O fato de ter coordenado a campanha do presidente Lula em Mato Grosso do Sul, ajudou?

Sim, pois o resultado político foi importante, elegemos dois parlamentares federais e três estaduais.

Suponho que a indicação passou pelo ex-governador e deputado estadual eleito Zeca do PT e o deputado federal reeleito Vander Loubet.

Sem dúvida, teve a articulação. O fato de eu ter sido deputado federal e estadual, contribuiu, mas a indicação partindo do Zeca, que foi duas vezes governador, deputado federal e agora deputado estadual eleito, e com o apoio do Vander, reeleito deputado federal, foi fundamental.

Como sua presença na transição pode colaborar com desenvolvimento agrário de MS?

Pelo fato de ter atuado nesta área, inclusive ter sido delegado federal do MDA, como já citei, tenho conhecimento da realidade agrária do Estado e posso contribuir com muitas informações. E conto, inclusive, com a colaboração de várias entidades do setor que já têm nos procurado e também as representações dos movimentos sociais ligados ao campo.  

E em nível nacional?

Nas políticas mais gerais como as do PAA e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

As reuniões do Núcleo de Transição são online ou presenciais?

As primeiras são hibridas, sendo um grupo participando dos estados e outro grupo na central. Isso está acontecendo nas duas primeiras semanas, até preparar o relatório preliminar que será entregue no dia 30 deste mês para a comissão executiva da transição. Depois será presencial em Brasília.    

Uma vez recriado o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o MDA, você tem expectativa de reassumir a Delegacia em MS?

Neste momento estamos em fase de estudos, não temos nem um organograma pronto com espaços definidos, pois o MDA foi extinto, portanto precisamos começar tudo de novo, por isso não podemos criar nenhuma expectativa.

Em função da repercussão da indicação na equipe do presidente Lula, algumas pessoas tentaram resgatar, nas redes sociais, uma situação delicada ocorrida há mais de 15 anos…

O trabalho que prestei em MS, como deputado federal, na época, atuei em várias áreas, claro com ênfase maior na questão da agricultura familiar e reforma agrária, portanto eram apresentadas emendas em vários setores para inúmeros municípios. Esse caso citado foi na área da saúde, na aquisição de vários veículos, inclusive, ambulâncias, a critério dos municípios. Isso gerou muita polêmica e foi judicializado. Sempre tive certeza de minha inocência, tanto é verdade que depois de mais de 15 anos tem decisão a meu favor por absoluta falta de provas.

E quanto aos caluniadores?

Já tenho ações propostas de danos morais sobre esse assunto, inclusive nestes resgates recentes que tentaram fazer com matérias requentadas sobre o mesmo tema, o tratamento não será diferente: quem acusou terá que responder na Justiça.   

Vamos falar um pouco de política eleitoral. Como foi a experiência de coordenar em todo o Estado uma campanha presidencial?

Foi uma experiência diferente e positiva, pois durante 24 anos eu sempre fui candidato, e agora me vi do outro lado coordenando uma campanha presidencial. Agradeço a Executiva e o Diretório do PT estadual pela confiança da indicação, registrando mais uma vez o apoio dos movimentos sociais e da militância de meu partido.

O presidente Lula teve cerca de 40% dos votos no Estado. Foi uma votação satisfatória?

Dado as características do Estado consideramos satisfatória a votação do presidente Lula, e contribuiu para o resultado político de crescimento do PT em MS. O fato de termos lançado candidatura própria ao Governo e uma candidatura ao Senado com expressão, também contribuiu para o resultado positivo.

Qual sua avaliação sobre o desempenho do PT de Dourados nas eleições 2022?

Na minha avaliação, o PT de Dourados saiu fortalecido, pois temos o primeiro suplente de deputado federal depois de 12 anos, o vereador Elias Ishy, temos a primeira mulher suplente de deputada estadual, a professora Gleice Jane, e uma expressiva votação com um candidato ao Senado de Dourados, o professor Tiago Botelho, mas claro que todas as candidaturas contribuíram no contexto geral.

Com Lula na Presidência, o PT fica fortalecido nas eleições municipais de 2024, na sucessão do prefeito Alan Guedes (PP) e nos demais municípios?

Sem dúvida que o PT ficou fortalecido em Dourados em função do desempenho que já citamos. No Estado, o fato de duplicar a bancada de deputado federal (Vander Loubet e agora com Camila Jara) e ter aumentado em 50% a representação na Assembleia Legislativa, com a presença do ex-governador Zeca do PT, que juntamente com Pedro Kemp e Amarildo Cruz poderão contribuir sobremaneira, indo além de conseguir recursos para os municípios, mas também intensificar as atividades partidárias em todo o Estado.

Você e o ex-prefeito Laerte Tetila já manifestaram a posição de não disputar a Prefeitura. Então, além do vereador Elias Ishy e das novas lideranças que surgiram [o professor Tiago Botelho e a professora Gleice Jane] ainda há espaço para o surgimento de outro nome ou a candidatura ficará entre os três?

Penso que ainda é cedo avaliar esse cenário.

O que você pensa sobre política de alianças em Dourados? O PT deve se limitar ao campo de esquerda?

A tendência do partido é caminhar com o campo de esquerda, mas isso é uma construção. As alianças, independentemente de qual será o formato, terá que passar, necessariamente, por dentro do partido.

Quando deputado federal você foi reconhecido como um dos melhores que MS teve em sua história. Considera a possibilidade de retornar ao Congresso Nacional?

Tudo é uma construção, sempre contribui com o meu nome para disputa eleitoral durante 24 anos. O tempo dirá.

O que espera do novo governo Lula?

Consolidar a democracia, erradicar a fome e resgatar as políticas públicas para promover a inclusão social.  

Acredita na pacificação do Brasil a partir de 2023?

Será um governo de disputas. A pacificação passa necessariamente pela habilidade política do Lula em relação ao Congresso Nacional, e vai contar com credibilidade que ele tem no cenário político internacional. 

João Grandão: Com a Justiça, com Lula e com o PT, enfim, o reconhecimento
O ex-deputado federal João Grandão e o diretor da Folha de Dourados, jornalista José Henrique Marques

Retirado de https://www.folhadedourados.com.br

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